Asco Highlights 2020 – câncer de mama


Confira o resumo de cinco estudos, considerados os mais importantes pelo Dr. Leandro Ramos, oncologista da Oncomed.

 

5 principais estudos da ASCO 2020 em Câncer de  Mama

O congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) em 2020 aconteceu de forma totalmente virtual devido a pandemia pelo novo corona vírus. Esse formato inédito, não alterou a tradição de importantes estudos serem apresentados em sessões orais ou em pôster

Gostaria de analisar de forma objetiva os cincos estudos a meu ver mais relevantes em câncer de mama apresentados nas sessões orais.

O estudo MINDACT foi publicado inicialmente em 2016. O objetivo principal foi avaliar se a sobrevida livre de metástase a distância (SLMD) em 5 anos de mulheres portadoras de carcinoma de mama principalmente com o perfil luminal, que apresentava alto risco clínico de recidiva e baixo risco genético pela assinatura do Mammaprint, não submetidas a quimioterapia adjuvante seria maior que 92%. Esse objetivo foi atingido com 94.7% dessas mulheres apresentando SLMD em 5 anos.  A comparação da SLMD entre este grupo e o que foi submetido a quimioterapia adjuvante não se mostrou diferente.

A atualização do estudo MINDACT com 8.7 anos de segmento apresentado na ASCO20, evidenciou que mulheres com até 50 anos de idade com alto risco clínico e baixo risco genético, apresentou uma diferença estatística de 5% na SLDM favorecendo do grupo de quimioterapia adjuvante. A análise deste dado aponta para a insegurança de privar a indicação de quimioterapia adjuvante em mulheres na pré-menopausa com alto risco clínico, mesmo que o Mammaprint mostre baixo risco genético.

O estudo randomizado fase III PHERGAIN, avaliou o papel do PET/CT em reduzir a intensidade do tratamento neoadjuvante nas pacientes portadoras de carcinoma de mama com superexpressão de HER2. Resposta patológica completa (RPC) e sobrevida livre de doença invasiva (SLDi) em 3 anos foram os objetivos principais. O tratamento padrão de quimio/duplo bloqueio neoadjuvante foi comparado ao duplo bloqueio exclusivo. As pacientes com duplo bloqueio apenas, que apresentaram boa resposta ao PET/CT pré-operatório, foram submetidas a cirurgia da mama. O estudo mostrou que 37.9% dessas pacientes atingiriam RPC superando a hipótese nula do estudo de 20%. A avaliação da SLDi que também foi um objetivo primário ainda está imatura e não foi apresentada na ASCO20. Portanto, a análise futura desse estudo, tem um potencial de indicar exclusivamente o duplo bloqueio com trastuzumabe e pertuzumabe nas pacientes portadoras de carcinoma de mama localizado e HER2 superexpresso.

O papel do antracíclico no cenário neoadjuvante do carcinoma de mama HER2 superexpresso tem sido questionado devido sua toxicidade e igualdade de resultados quando utilizado o duplo boqueio do HER2. O estudo randomizado fase III TRAIN-2 publicando inicialmente em 2018 comparou quimioterapia com ou sem epirubicina sendo ambos os regimes associado ao duplo bloqueio do HER2 com trastuzumabe/pertuzumabe.  O objetivo primário foi a resposta patológica completa (RPC) que foi de 68%, sem diferença estatística entre os regimes. A atualização do estudo TRAIN-2 com a mediana de segmento de 49 meses apresentada na ASCO20 teve como foco os objetivos secundários: sobrevida livres de eventos (SLE), sobrevida global (SG) e toxicidade. As curvas de ambas as sobrevidas foram semelhantes entres os regimes de tratamento: EFS em 3 anos de 93,5% contra 92,7% no grupo do antracíclico e SG em 3 anos de 98,2% contra 97,7% também no grupo do antracíclico. A toxicidade porem, foi significativamente pior no grupo que utilizou antracíclico no que diz respeito ao risco cardíaco e neutropenia febril. Os dados deste estudo corroboram para a não indicação de antracíclico no regime de quimioterapia neoadjuvante associado ao duplo bloqueio do HER2.

No cenário de carcinoma triplo negativo (TN) avançado, foi apresentado o estudo randomizado fase III KEYNOTE 355 que avaliou o papel do pembrolizumabe associado ou não a quimioterapia.  Os objetivos principais foram sobrevida livre de progressão (SLP) nas pacientes PDL1 positivo (CPS>10 e CPS>1) e sobrevida global, este último, não foi informado pelo tempo de segmento ainda insuficiente. As curvas de SLP foram estatisticamente favoráveis à combinação quimioterapia/pembro principalmente no cenário de PDL1 positivo e CPS>10: 9,7 meses x 5,6 meses com o HR de 0,65. No cenário de CPS>1 a SLP também foi favorável à combinação com um HR de 0,74. Esse resultado na doença avançada, associado a alta taxa de resposta patológica completa evidenciado no estudo neoadjuvante fase III KEYNOTE 522, incorpora o pembrolizumabe no arsenal terapêutico do carcinoma TN de mama com PDL1 positivo.

O estudo randomizado fase III ECOG-ACRIN 2108 apresentado na sessão plenária da ASCO20 avaliou a ressecção cirúrgica da lesão mamária primária no contexto de doença metastática ao diagnóstico. Dois estudos fase III prévios, que analisaram este cenário, apresentaram resultados contraditórios. No estudo ECOG-ACRIN 2108 as pacientes foram submetidas ao melhor tratamento sistêmico durante 4 a 8 meses, aquelas que não evoluíram com progressão de doença, foram randomizadas para a ressecção da lesão primária da mama ou para a manutenção do tratamento sistêmico. A análise da sobrevida global (SG) em 3 anos foi o objetivo primário do estudo. O perfil luminal estava presente em 59% das pacientes, HER2 superexpresso em 33% e triplo negativo em 7,8%. Não houve diferença estatística na SG em 3 anos: 68,4% no grupo de tratamento local contra 67,9% no tratamento sistêmico apenas. A recorrência loco regional porem, foi estatisticamente maior no grupo que não foi submetida ao tratamento local: 25,6% contra 10,2%. Como conclusão, o estudo mostrou que o tratamento local da mama no contexto de doença metastática não tem impacto em SG, apesar de reduzir a recorrência loco regional.



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